25 março 2008



Eu sei que uma mesma situação vivida por duas pessoas pode ser sentida ou entendida sob perspectivas diferentes, mas é lamentável que pague o justo pelo pecador...

Esta manhã tive uma peripécia matinal com um funcionário da Câmara de Oeiras que andava a arrancar as ervas daninhas aos canteiros de árvores despidas da minha rua. Apesar de me superar em anos de vida e das suas mãos calejadas, este senhor não soube perceber que quando um cão quer defecar, não há quem o impeça, e, na minha perspectiva - lá está! -, é preferível que o faça sobre um monte de erva murcha e amontoada, pronta a embalar num saco de lixo, do que no passeio público, onde qualquer cidadão pode, inadvertidamente, pisar a "prenda
".

Ora, essa não foi a opinião do estimado funcionário que interpretou a real cagadela do meu Buggie como um gesto de provocação e falta de respeito pelo seu trabalho de jardinagem e se assim pensou, melhor gritou. Era vê-lo a esbracejar de ancinho na mão, andando para cá e para lá na esperança de atrair aliados para a sua causa e testemunhas para o que pensou ser a típica desconsideração de jovem-branca-mulher-burguesa.

De nada valeu explicar-lhe que ia apanhar a caca do cão com um saco, como aliás é normal e esperado, porque o homem estava demasiado perdido na sua indignação traduzida em decibéis que um ouvido humano minimamente civilizado tende a rejeitar. Um cocó de cão foi o seu trampolim para 5 minutos de fama...

A minha revolta e a minha vergonha nem esse tempo duraram. Percebi com tristeza, escondida debaixo dos meus óculos escuros, enquanto deixava o Buggie regar mais ervinhas e farejar o chão, que este senhor nada tinha contra mim em particular. Estava apenas zangado com a vida e a falta de oportunidades que o confinaram a um trabalho digno, mas ingrato e com pouco ou nenhum reconhecimento. Insurgiu-se contra a falta de civismo e a indiferença com que passamos por ele e pelas ervas que arranca e ajunta parcimoniosamente todos os dias de há muitos anos.

Nunca me tinha visto, desconhece os meus hábitos e educação, ignorou o facto de lhe ter ido mostrar o saquinho fechado e achou-se no direito de me julgar e condenar. Reclamar era tudo o que este funcionário queria para se sentir vivo. E eu deixei... Foi a minha boa acção de hoje.

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