09 novembro 2008

Não consigo evitar sentir sempre alguma má vontade contra figuras da televisão que de repente surgem em palco como actrizes. Aconteceu-me com a Catarina Furtado, em Loucos por Amor, quando ela levou a peça de Sam Shepard à sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II. Pura e simplesmente não fui capaz de a descolar da imagem de apresentadora "namoradinha de Portugal". E aconteceu-me agora com a Cláudia Semedo, em Navalha na Carne, em cena no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço. Ainda assim, a Cláudia bateu a Catarina aos pontos. Custou a arrancar, um pouco de overacting, mas depois fluiu e a linguagem corporal merece parabéns. A de todos, aliás. É que a puta é mesmo puta; a bicha é mesmo bicha; e o chulo é o canalha mais pintas e bruto da nossa praça. O texto é duríssimo e impróprio para os ouvidos mais pudicos, mas uma vez habituados à crueza da linguagem, embrenhamo-nos na pele daqueles três pobres diabos que até ao correr do pano se cospem, se insultam e se maltratam em variações de miséria e vaidade. Não é de se perder o fôlego, mas é de ver.

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